quinta-feira, 11 de novembro de 2010



Eu tinha uma TITA, da TITA matei 7, das 7 escolhi a melhor, atirei no que vi, acertei o que não vi, com as 7 palavras santas assei e comi, bebi água sem ser do céu, sem ser da terra e vi um morto carregando 5 vivos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ser professora evita assaltos?

Semana passada, dia 26/10, fui dar aula particular a uma menina lá na Rosa e Silva. Foi um dia de adrenalina pura. hahahaha Primeiro porque ela morava no everest do 34º andar de um prédio, e eu tenho medo de elevador. Não diria fobia, mas um medinho de ficar presa dentro. Chegando lá, vi que o conteúdo era maior do que eu imaginava. A menina tinha uma prova de admissão naquele dia para um grande colégio aqui de Recife e tivemos que ver um assunto que eu ensino em um ano inteiro em apenas 4h30. A criatura do pântano, ops... a menina sugou as minhs energias e não me ofereceu nem goiabada com água pra aplacar a minha fome, já que eu tinha chegado lá muito cedo e estava dando aula sem parar, quatro horas seguidas. UFA!

Quando saí de lá, desci a "montanha" de apartamentos até o térreo e -me perdoem a metáfora - literalmente desci da riqueza para a pobreza. hehehehhe O apartamento era tão alto que nem parecia que estávamos em Recife. Se eu pensar com um pouco mais de imaginação, posso até dizer que passou um avião pela janela e o piloto deu tchauzinho para nós (tá bom, forcei!). Mas vcs entenderam o quanto era alto, né? Saí, cheguei na rua e senti que eu era o alvo preferido de qualquer ladrão que pudesse passar por ali. Comecei a andar o mais rápido possível. Bolsa de lado com cheque do pagamento dentro, notebook na outra mão dentro de uma outra bolsa, eu era um alvo fácil. Até que aconteceu...

Tinha um trombadinha - "trobadão", na verdade - no meio da calçada, muito doidão, com uma pedra gigantesca batendo contra uma caixa telefônica da Oi que ficava perto da parada. Cada batida que ele dava amassava a caixa, só pra ter uma ideia. Ali estava eu, parada feito uma estátua, ele no meio e do outro lado a minha salvação: PARADA DO ÔNIBUS! Eu pensei: Se eu passar rápido por trás dele, ele não vai nem perceber. Se eu chegar até a parada, vai ter mais gente para eu me proteger (ou não!) É isso aí, vou passar pq se eu ficar parada ele é que vai vir até mim, se eu voltar ele vai me seguir. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

Como a Lei de Murphy é minha doce companheira, o ladrão me viu... e não só me viu...

PEQUENO DIÁLOGO ENTRE O LADRÃO E A PROFESSORA

- Ei, tia, passa o celular, perdeu!
- Não tenho celular!
- Bora, mô véi, passa o celular!!
- Já disse que não tenho celular!!!!!
- Me dê o celular senão eu estouro sua cabeça com essa pedra.

Começo a andar, ele também, e acabamos chegando até a parada. Tinha um senhor do meu lado, mas eu nem tinha percebido que ele era pelo menos uns 50 anos mais velho do que eu, e, levando em consideração que eu tenho 22, perceba que ele não poderia me defender de nada e talvez o contrário é que seria mais coerente. Chegou o ônibus do senhor e ele subiu, então vc se pergunta: Pq essa idiota não subiu no ônibus tbm??? Não é?

Se vc acha que eu subi, estará errado; se vc acha que eu corri, gritei, chorei, dei o celular, fiz um prece, qualquer coisa desse tipo... também errou. O ladrão, que se fazia de surdo, voltou a arranhar o disco com a mesma frase:

- Bora, tia, me dá o celular!

Aí eu fiz a coisa mais imbecil que se possa imaginar: eu sentei na parada. Umas mulheres que estavam lá, e correram depois que eu cheguei com o ladrão, me olhavam de longe escondidas, prontas para ver a minha desgraça. Coitada, vai ter a cabeça esmagada agora.
Se era pra ter a cabeça esmagada, que fosse sentada, né. Pelo menos quem visse minha foto no jornal pensaria: Bichinha, nem conseguiu se defender, estava sentada. Se estivesse em pé talvez teria corrido, ou entrado em um ônibus, ou alguma coisa inteligente já que ela era professora, ne?? Teria pensado em uma boa solução! (Tá bom, viajei de novo)
Quando eu sentei, o ladrão ficou confuso (talvez ele não esperava tamanha idiotice). Acabou me pedindo um valor semelhante ao do celular:

- Então me dá doi real aí!

Acredite! DOIS REAIS! DOIS REAAAAAIIISSSSS!! É um ibecil mesmo!! Aproveitei a chance:

- Eu vou te dar, mas você vai desaparecer da minha frente.

Enfiei a mão na bolsa e tirei um monte de moedas, coloquei na mão dele. As moedas cairam pelo chão e ele saiu apanhando.

- É sua passagem , é tia? Quero não!
- Não, pode levar!
- Quero sua passagem não, tia!
- Não é minha pasagem, pode levar, eu tenho cartão aqui.
- Eu não gosto de levar a passagem dos outros não, sabe. Pq as pessoas ficam sem pegar o ônibus (só faltou ele dizer: podem até ser assaltadas na rua, né ¬¬)
- Já disse que não é minha passagem!

Minha barriga roncou e minha raiva subiu:

- Que coisa feia, ficar na rua assaltando as pessoas. Vc acha isso bonito? A pessoa trabalha a manhã toda e vem um como vc assaltar a gente!!
- A senhora tava trabalhando foi, tia?
- Estava. Estava dando aula até agora e tô morrendo de cansada!
- A SENHORA É PROFESSORA É, TIA??????

Pronto! Cabou-se!

- Aperta a minha mão aqui, tia!

Olhei de cima a baixo. Ele era sujeira do início ao fim! Mas, quando a sorte te estende a mão, vc não pode recusar. Ele jogou a pedra, eu podia pegar a mão dele, puxar, dar uma rasteira, virar as mãos para trás e depois pisar na cabeça, imobilizando-o até que a polícia chegasse. Mas não fiz isso... Apertei a mão do menino.

- Vc devia estar na escola agora!
- Oxe, eu fui expulso, tia. Eu ia matando o boy lá, pq ele enfiou um lápis aqui no meu ombro, doeu que só, tia. Aí eu ia matando ele no cacete! Olha a ferida aqui, tia. Bota a mão!
- Eu estou vendo.
- Bota a mão, tia.
- Não, eu estou vendo.
- BOTA A MÃO AQUI, TIA.

Depois de pedir assim, tão delicadamente, quem não colocaria? Tinha uma cicatriz no ombro.
- Em que escola vc estudava?
- Lá em Nova Descoberta.
- Já ensinei lá.
- Foi mesmo, tia?
- Foi.
- A senhora fez faculdade, tia?
- Aham.
- Eu também vou fazer faculdade. Primeiro vou roubar, matar, estuprar, ir pro presídio, depois vou pra faculdade.
- Quer dizer que você vai fazer primeiro tudo errado depois vai pro caminho certo? Isso não é muito inteligente.

Ele sorriu. Me fez lembrar meu aluno Deivson, que estava na 6ª série (quando foi meu aluno em 2008) e não sabia escrever o próprio nome. Eu estava alfabetizando. Conversava muito comigo, dizendo que queria estudar e que o irmão dele era ladrão, chamava ele para roubar, mas ele não queria. Um dia Deivson brigou na escola, foi suspenso, acabou ficando doente em casa, não teve atestado e perdeu a Bolsa Escola. Não foi mais para a escola. Um aluno me disse que ele estava andando com o irmão, provavelmente roubando. Será que ele teve culpa por ter caído nessa vida??

- Olha, eu não disse que eu ia te dar o dinheiro e vc ia sumir da minha frente?

Ele riu, atravessou a rua e foi roubar uma menina que estava passando. Acho que eu ainda fiquei uns 10 minutos sentada na parada, até que foi enchendo de gente, aí eu me toquei que meu ônibus não passava ali. Saí andando, entrei na Rua da Hora e liguei pra Edvaldo.

- Edvaldo, fui assaltada.
- O quê? Onde tu estás?
- Na Rua da Hora.
- Tô indo aí.

Acho que só fiz isso porque ele estava com uma pedra. Se fosse um canivete, uma faca, um caco de vidro, um revólver, eu teria dado o celular, a bolsa, o que ele pedisse e talvez teria amaldiçoado ele e a família até a sétima geração de antecedentes. Mas não! Que abestalhada. O menino me assalta e eu vou pensar no social, nos alunos como ele que eu já tive, alunos que moravam na rua, que roubavam, chegavam na escola com um celular novo toda semana, drogados, esquizofrênicos que não tomavam remédios, que iam assistir aula armados.Isso é perigoso.
Mas também já passei por alunos filhinhos de papai, ricos, metidos a besta, que poderiam processar Deus e o mundo e etc, pessoas influentes. E isso também não deixa de ser perigoso.
É... talvez eu tenha passado por situações mais perigosas, só não me dava conta.
Tudo na vida tem os dois lados da moeda.
Por via das dúvidas, nunca faça o que eu fiz!

Abraços.