quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Meus primeiros anos de 2010

O ano letivo finalmente terminou. No último dia de aula, eu prometi aos queridos pestinhas do 1º ano do Decisão que iria escrever uma postagem aqui para eles em homenagem. Isso porque eu não serei professora deles ano que vem.
Nunca tive um aluno que dissesse gostar de Português, eu digo a matéria, porque se for português que veio de Portugal, moreno, alto, bonito e sensual, todas as meninas vão dizer que amam português desde pequenininhas. Não é desse português que eu falo, com letra minúscula, mas do Português matéria, com letra maiúscula. A gente tenta tirar o bloqueio, falar mais de língua ao invés da gramática, não que esta não seja importante, mas aquela é tão esquecida.
O início do ano é sempre um desafio, não tem como não ficar nervosa, ansiosa com o que virá. O novo sempre nos deixa nessa tensão. Esse ano não foi diferente. Iniciamos bem, eles com cara de criança ainda, cheios de Justin Bieber na cabeça, Restart etc. No decorrer do ano, pude ver alguns amadurecerem, falarem de coisas mais sérias, aumentarem de tamanho, namorarem, continuarem falando besteiras, rirem, chorarem e até ficarem de luto verdadeiro.
Todos os anos é uma gestação. Gestação dos filhos dos outros, que eu faço e que em dezembro se acaba e eles vão embora, já que a próxima fornada estará vindo no ano que vem.
Tem sempre lugar para gente nova que entra, essa gente chata, que reclama de tudo, faz barulho, joga bola de papel, elogia, se desespera com o vestibular (ou não) e tudo mais. Perdoem-me os que não aparecem nesta postagem, vocês não foram menos importantes, lembrarei de cada um, mesmo que eu não saiba o nome. Mas as figurinhas dos meus primeiros anos eu não esqueço mais:

Pedro inventou um novo tipo de oração subordinada "oração subordinada satanista do inferno reduzida do abismo do buraco negro !". Dessa eu ri demais. Veja como ele A-DO-RA o assunto, mas gosta tanto que decorou até a ordem das classes gramaticais e colocou certinho intuitivamente, ou seja, sabe usar a língua portuguesa.
Rafaella (com 2 LL), que virou minha filha por uns tempos, depois virou homem de lata, virou Gribalda, virou braba, virou risonha, me deu uma caixa de sabonete e um cartão de Dia das mães...
As "DE BRANCO": Ana Fragoso, Jéssica, Maria Carolina, Islayne, Mariana Carla, Gabriela Lopes, Camila Santiago, que foram filmar O Mágico de Oz, foram tão mordidas de muriçoca quanto eu e me deram o prêmio de Melhor Propaganda da ExpoArte 2010... Robert, que foi o leão; Nayara, que foi Dorothy... Obrigada, gente.

Não me esquecerei também daqueles meninos que sentavam atrás: Henrique, Arthur, Alex, Ricardo, Rebert, Rafael, Mateus Mendes... e das meninas MAGDALAAAAA, Alana, Elisa, Rebeka e Rebeca (conversadooooras). Dei tantas risadas verdadeiras com vcs.
Cesar, com o seu inconfundível “belê, fessora??”, foi embora tão cedo...
Gabi Lopes ficou comigo mais de um ano, não sabe o quanto gosto de você. As meninas da frente Rayssa e Mayara, essa última que foi par foi para a tarde, voltou só pq me amava (brincadeirinhaaaa). Letícia Mourato, Marcus (que saiu no meio do ano)... esses quatro muito interessados.
Monik, braba que era ela, aff, toda grossa dando dedo para Deus e o mundo, esqueço não, viu??

No meu 1º A tinha as fofuras Tathi e Michelle (apertadoras mor de bochechas), todas as aulas elas davam uma apertada, faziam peixinho, mandavam eu falar uma frase com a bochecha apertada (que mico, hein??). Carolina Gouveia, que parece uma boneca de porcelana, fica bonita em qualquer foto, muuuuuuuuuuuito fofa. Grazi, essa é meio braba, reclamona, mas eu ammmoooooo de paixão; Camila Machado, sentimental, às vezes no mundo da lua, não sabe como foi bom ter entrado na minha vida...
Duda, que dizia que eu falava muito, já pensou?? Deve ser mal das Eduardas. Demétrius e Rebeca, perguntadores natos, ele vive no mundo da lua, pergunta as coisas e quando a gente vai responder ele já foi pro mundo dele, autista por opção hehehehe na hora da minha prova, acertou todas, até a extra e tirou 11,0, o único aluno que conseguiu essa façanha em toda a minha vida de prof. Já ela fica com aquela cara de “não to entendendo, vou matar a professora”, mas no fundo eu sei que ela sabe.

Não posso deixar de citar Larissa, a idealizadora deste blog nem Marcelly e Rayssa, que viviam para lá e para cá “tia Duda, tia Duda”. Matheus Cavalcante, fez um levante no Praia Limpa e hoje, graças a ele, toda a praia sabe quem eu sou heheheheh. Danilo Victor, passou mais de um ano comigo e até postou sobre mim no blog dele, dizendo que a turma do ano passado não gostava de mim, isso antes de eles me amarem hahahaha
Filipe (não sei se é assim), web designer de plantão, meu segundo Edvaldo nessas coisas de computação (já que essas conversas eu só tenho com os dois). Vanessa: inteligência, beleza e dedicação é com ela mesma. É, minha gente, eu prestava mais atenção em vcs do que vcs podem imaginar.
2010 terminou. Ano que vem, quem sabe, virão outros. Será uma nova jornada, diferente, com certeza. Todos que passam pela nossa vida não passam em vão, sempre deixam um pouco de si e levam um pouco de nós, já dizia o poeta. O ano de 2010 foi de vcs, sucesso, felicidade, amor e uma passagem garantida no vestibular é o que eu desejo. Ano que vem é dureza, mas bola pra frente. E quando precisar, estarei aqui, é só chamar...


1º A


1º B

domingo, 5 de dezembro de 2010

Filosofia da lavagem do chão

A primeira escola em que eu ensinei funciona em um prédio de 1º andar. Nas salas de baixo, acho que funcionavam as turmas dos alunos menores (não me lembro exatamente) e nas salas de cima os maiores. No final da escada, embaixo, há um corredor que vai dar na porta da rua. Antes do portão de saída do prédio, fica à esquerda a sala do diretor e à direita a sala dos professores.
No fatídico dia, desci até o térreo e fiquei parada analisando o meu fracasso. Analisei as aulas que eu tinha dado, as minhas expectativas anteriores a elas, as minhas noites de sono perdidas, o curso que eu estava fazendo, isso tudo numa fração de segundo. Fiquei parada sem saber o meu destino: se eu entrasse à direita, teria mais um dia de choro, mais uma noite sem sono; se entrasse à esquerda, pediria demissão e aceitaria minha derrota.
Entrei na sala dos professores e, enquanto os outros falavam, eu pensava em como encarar o diretor e o que dizer a ele por aquela desistência. Ele era um homem jovem, de uns trinta e poucos anos, porém conhecido pela rigidez e pelo exagero das expressões, parecia que ele estava encenando uma peça.

BREVE LEMBRANÇA DO DIA EM QUE CONHECI O DIRETOR E SUAS NOBRES PALAVRAS:

Três criaturas paradas no corredor do colégio examinando o ambiente: Juliana, Luciano e eu.
- Nós viemos falar com o diretor Fulano de Tal. - disse ao guarda.
- É aquele ali. Aquele com a vassoura na mão.
(Calma, ele não se preparava para voar. Esse é um atributo apenas das bruxas e dos fofíssimos bruxos de Harry Potter, o que ele estava bem longe de ser)
A vassoura ele estava dando a um aluno que tinha brigado. O outro brigão tinha ido buscar a sua na cozinha, eles iam varrer o colégio como castigo.

- Bom dia, diretor, poderíamos falar com o senhor?
- Quem são vocês? Estagiários?
- ... é.
Entramos na sala dele.
- Bom, é o seguinte: o público com que a escola trabalha é bem difícil, algumas escolas da nossa vizinhança só trabalham com uma viatura na porta, mas aqui não, aqui é diferente, enquanto eu estiver sentado nessa cadeira a escola não precisa de viatura para funcionar. Eu dou o sangue por essa escola.
- Nós vimos, achei bem interessante como eles obedecem às suas ordens aqui, vimos o episódio da vassoura e estávamos ali comentando. - interrompe Luciano.
- Pois bem, minha gente, vamos deixar as coisas bem claras. Eu queria dizer que, em primeiro lugar, esses meninos são como meus filhos. Se um professor não serve para meu filho, não serve para minha escola, então é rua. Não me interessa se você tem pai, mão, filho, namorado, papagaio, passarinho, contas a pagar, ficou doente, não quero saber, faltou é rua. Eu gosto de estagiário por isso, porque se faltar é rua. Outra coisa: não toquem nos meninos. Se um menino desses der na senhora e machucar o dedo, professora (dirigindo-se a mim), a senhora vai presa porque o Estatuto acoberta. Aqui tudo passa pela minha organização, sabe por quê? Porque eu não tenho coração, o meu coração eu piquei e coloquei na merenda, ele está nessa escola. Se o professor não serve para a escola, então ele tem que sair.

Naquele dia de desistência, eu - que tenho coração e que, inclusive, estava batendo severamente rápido por ter que tomar uma decisão tão importante - resolvi encarar a fera sem alma. Entrei na sala dele com os livros na mão para apertar e dar coragem:

- Bom dia, Professor Fulano.
- Bom dia.
- Gostaria de falar com o senhor.
- Fale.
- Estou desistindo, queria que o senhor devolvesse a minha carta à central de estágio.
- Mas por quê???
- Não aguento mais, quero ir embora.
- A senhora está nervosa. Vá para casa e repense. Veja, no início é sempre difícil, eu mesmo já estou aqui nesta cadeira há 4 anos e nesta cadeira já fui chamado de filho da ..., via..., mandaram tomar no... e eu continuo sentado aqui, portanto eu acho que a senhora não deve desistir. Imagina a minha dificuldade pra conseguir alguém agora? Eu digo mesmo: se a senhora sair daqui, nunca mais vai achar uma escola que preste, vai ser igual ou pior que esta. Vai desistir da profissão, é?

Eu já estava com os olhos marejados, mas tinha prometido para mim mesma que não ia chorar na frente dele.

- Se for preciso, sim!

Ele não esperava essa resposta. Ficou calado, olhando para a minha cara. Me encarava como se quisesse ver quem iria abaixar a cabeça primeiro. Então falou:

- A senhora está muito nervosa. Vá para casa e pense. Depois a senhora liga para mim e me diz uma resposta.

Saí, peguei o ônibus e desci na parada certa. Era uma mistura de alívio e tristeza com fracasso que tinha tomado conta de mim.
Entrei no supermercado e em um dos corredores havia um rapaz limpando o chão. Minha mente tem vida própria e conversa com a minha consciência o tempo todo. Uma disse para a outra:

- Tá vendo? Veja o trabalho dele. Deve ganhar um salário mínimo, mais do que você ganha com esse estágio e ninguém o incomoda.
- Sim, mas eu sou alérgica a produtos de limpeza, como poderia fazer isso?
- Não é disso que estou falando. Pese o seu trabalho e o dele. Você tem curso superior, estudou tanto, tirou boas notas e foi parar naquele lugar, trabalhando com a voz, gritando para ser ouvida quando o que você diz é mais importante para quem devia ouvir e não para você que fala. Ele limpa, fala piada, ouve música, diz palavrão e não precisa chorar o dia todo.
- hummm...
- Isso não é justo! Não que o trabalho dele não seja digno, mas você poderia estar num lugar melhor, entende?
- Sim. Hoje eu não vou chorar.

Fui para casa decidida. Eu tinha superado o trauma, não ia chorar. Chegando no portão, meu cachorro me sorriu latindo, não coloquei as malas no chão porque não as tinha, mas minha mãe veio abrir a porta. A cara dela era de uma expectativa tão grande que eu comecei a chorar dali mesmo. Desabei. Ela começou a chorar também e disse que isso não era trabalho pra ninguém, que se estava tão ruim assim o melhor era sair mesmo.
Peguei o número da escola e liguei:
- Alô, diretor? Sou eu, Eduarda. Estou ligando pra dizer que desisti mesmo.
- Certo, professora. Adeus.
Tututututututu.......

Desligou na minha cara, mal educado. Não sei se eu pulei de alegria, mas lembro que na mesma hora peguei um monte de atividades que os alunos tinham feito, rasguei e joguei no lixo. Foi importante para a minha alma ter feito isso, era como uma vingança pelo que eles tinham feito. Foi assim que tudo terminou.
Deus fez o mundo em sete dias e em três eu modifiquei o meu.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010



Eu tinha uma TITA, da TITA matei 7, das 7 escolhi a melhor, atirei no que vi, acertei o que não vi, com as 7 palavras santas assei e comi, bebi água sem ser do céu, sem ser da terra e vi um morto carregando 5 vivos.

sábado, 6 de novembro de 2010

Ser professora evita assaltos?

Semana passada, dia 26/10, fui dar aula particular a uma menina lá na Rosa e Silva. Foi um dia de adrenalina pura. hahahaha Primeiro porque ela morava no everest do 34º andar de um prédio, e eu tenho medo de elevador. Não diria fobia, mas um medinho de ficar presa dentro. Chegando lá, vi que o conteúdo era maior do que eu imaginava. A menina tinha uma prova de admissão naquele dia para um grande colégio aqui de Recife e tivemos que ver um assunto que eu ensino em um ano inteiro em apenas 4h30. A criatura do pântano, ops... a menina sugou as minhs energias e não me ofereceu nem goiabada com água pra aplacar a minha fome, já que eu tinha chegado lá muito cedo e estava dando aula sem parar, quatro horas seguidas. UFA!

Quando saí de lá, desci a "montanha" de apartamentos até o térreo e -me perdoem a metáfora - literalmente desci da riqueza para a pobreza. hehehehhe O apartamento era tão alto que nem parecia que estávamos em Recife. Se eu pensar com um pouco mais de imaginação, posso até dizer que passou um avião pela janela e o piloto deu tchauzinho para nós (tá bom, forcei!). Mas vcs entenderam o quanto era alto, né? Saí, cheguei na rua e senti que eu era o alvo preferido de qualquer ladrão que pudesse passar por ali. Comecei a andar o mais rápido possível. Bolsa de lado com cheque do pagamento dentro, notebook na outra mão dentro de uma outra bolsa, eu era um alvo fácil. Até que aconteceu...

Tinha um trombadinha - "trobadão", na verdade - no meio da calçada, muito doidão, com uma pedra gigantesca batendo contra uma caixa telefônica da Oi que ficava perto da parada. Cada batida que ele dava amassava a caixa, só pra ter uma ideia. Ali estava eu, parada feito uma estátua, ele no meio e do outro lado a minha salvação: PARADA DO ÔNIBUS! Eu pensei: Se eu passar rápido por trás dele, ele não vai nem perceber. Se eu chegar até a parada, vai ter mais gente para eu me proteger (ou não!) É isso aí, vou passar pq se eu ficar parada ele é que vai vir até mim, se eu voltar ele vai me seguir. Se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

Como a Lei de Murphy é minha doce companheira, o ladrão me viu... e não só me viu...

PEQUENO DIÁLOGO ENTRE O LADRÃO E A PROFESSORA

- Ei, tia, passa o celular, perdeu!
- Não tenho celular!
- Bora, mô véi, passa o celular!!
- Já disse que não tenho celular!!!!!
- Me dê o celular senão eu estouro sua cabeça com essa pedra.

Começo a andar, ele também, e acabamos chegando até a parada. Tinha um senhor do meu lado, mas eu nem tinha percebido que ele era pelo menos uns 50 anos mais velho do que eu, e, levando em consideração que eu tenho 22, perceba que ele não poderia me defender de nada e talvez o contrário é que seria mais coerente. Chegou o ônibus do senhor e ele subiu, então vc se pergunta: Pq essa idiota não subiu no ônibus tbm??? Não é?

Se vc acha que eu subi, estará errado; se vc acha que eu corri, gritei, chorei, dei o celular, fiz um prece, qualquer coisa desse tipo... também errou. O ladrão, que se fazia de surdo, voltou a arranhar o disco com a mesma frase:

- Bora, tia, me dá o celular!

Aí eu fiz a coisa mais imbecil que se possa imaginar: eu sentei na parada. Umas mulheres que estavam lá, e correram depois que eu cheguei com o ladrão, me olhavam de longe escondidas, prontas para ver a minha desgraça. Coitada, vai ter a cabeça esmagada agora.
Se era pra ter a cabeça esmagada, que fosse sentada, né. Pelo menos quem visse minha foto no jornal pensaria: Bichinha, nem conseguiu se defender, estava sentada. Se estivesse em pé talvez teria corrido, ou entrado em um ônibus, ou alguma coisa inteligente já que ela era professora, ne?? Teria pensado em uma boa solução! (Tá bom, viajei de novo)
Quando eu sentei, o ladrão ficou confuso (talvez ele não esperava tamanha idiotice). Acabou me pedindo um valor semelhante ao do celular:

- Então me dá doi real aí!

Acredite! DOIS REAIS! DOIS REAAAAAIIISSSSS!! É um ibecil mesmo!! Aproveitei a chance:

- Eu vou te dar, mas você vai desaparecer da minha frente.

Enfiei a mão na bolsa e tirei um monte de moedas, coloquei na mão dele. As moedas cairam pelo chão e ele saiu apanhando.

- É sua passagem , é tia? Quero não!
- Não, pode levar!
- Quero sua passagem não, tia!
- Não é minha pasagem, pode levar, eu tenho cartão aqui.
- Eu não gosto de levar a passagem dos outros não, sabe. Pq as pessoas ficam sem pegar o ônibus (só faltou ele dizer: podem até ser assaltadas na rua, né ¬¬)
- Já disse que não é minha passagem!

Minha barriga roncou e minha raiva subiu:

- Que coisa feia, ficar na rua assaltando as pessoas. Vc acha isso bonito? A pessoa trabalha a manhã toda e vem um como vc assaltar a gente!!
- A senhora tava trabalhando foi, tia?
- Estava. Estava dando aula até agora e tô morrendo de cansada!
- A SENHORA É PROFESSORA É, TIA??????

Pronto! Cabou-se!

- Aperta a minha mão aqui, tia!

Olhei de cima a baixo. Ele era sujeira do início ao fim! Mas, quando a sorte te estende a mão, vc não pode recusar. Ele jogou a pedra, eu podia pegar a mão dele, puxar, dar uma rasteira, virar as mãos para trás e depois pisar na cabeça, imobilizando-o até que a polícia chegasse. Mas não fiz isso... Apertei a mão do menino.

- Vc devia estar na escola agora!
- Oxe, eu fui expulso, tia. Eu ia matando o boy lá, pq ele enfiou um lápis aqui no meu ombro, doeu que só, tia. Aí eu ia matando ele no cacete! Olha a ferida aqui, tia. Bota a mão!
- Eu estou vendo.
- Bota a mão, tia.
- Não, eu estou vendo.
- BOTA A MÃO AQUI, TIA.

Depois de pedir assim, tão delicadamente, quem não colocaria? Tinha uma cicatriz no ombro.
- Em que escola vc estudava?
- Lá em Nova Descoberta.
- Já ensinei lá.
- Foi mesmo, tia?
- Foi.
- A senhora fez faculdade, tia?
- Aham.
- Eu também vou fazer faculdade. Primeiro vou roubar, matar, estuprar, ir pro presídio, depois vou pra faculdade.
- Quer dizer que você vai fazer primeiro tudo errado depois vai pro caminho certo? Isso não é muito inteligente.

Ele sorriu. Me fez lembrar meu aluno Deivson, que estava na 6ª série (quando foi meu aluno em 2008) e não sabia escrever o próprio nome. Eu estava alfabetizando. Conversava muito comigo, dizendo que queria estudar e que o irmão dele era ladrão, chamava ele para roubar, mas ele não queria. Um dia Deivson brigou na escola, foi suspenso, acabou ficando doente em casa, não teve atestado e perdeu a Bolsa Escola. Não foi mais para a escola. Um aluno me disse que ele estava andando com o irmão, provavelmente roubando. Será que ele teve culpa por ter caído nessa vida??

- Olha, eu não disse que eu ia te dar o dinheiro e vc ia sumir da minha frente?

Ele riu, atravessou a rua e foi roubar uma menina que estava passando. Acho que eu ainda fiquei uns 10 minutos sentada na parada, até que foi enchendo de gente, aí eu me toquei que meu ônibus não passava ali. Saí andando, entrei na Rua da Hora e liguei pra Edvaldo.

- Edvaldo, fui assaltada.
- O quê? Onde tu estás?
- Na Rua da Hora.
- Tô indo aí.

Acho que só fiz isso porque ele estava com uma pedra. Se fosse um canivete, uma faca, um caco de vidro, um revólver, eu teria dado o celular, a bolsa, o que ele pedisse e talvez teria amaldiçoado ele e a família até a sétima geração de antecedentes. Mas não! Que abestalhada. O menino me assalta e eu vou pensar no social, nos alunos como ele que eu já tive, alunos que moravam na rua, que roubavam, chegavam na escola com um celular novo toda semana, drogados, esquizofrênicos que não tomavam remédios, que iam assistir aula armados.Isso é perigoso.
Mas também já passei por alunos filhinhos de papai, ricos, metidos a besta, que poderiam processar Deus e o mundo e etc, pessoas influentes. E isso também não deixa de ser perigoso.
É... talvez eu tenha passado por situações mais perigosas, só não me dava conta.
Tudo na vida tem os dois lados da moeda.
Por via das dúvidas, nunca faça o que eu fiz!

Abraços.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Um poema

O bem e o mal em nós


Nos escandalizamos com o político ladrão,
Mas damos propina ao policial.
Porque metade de nós é honestidade
E a outra metade é corrupção.

Abraçamos um amigo, desejando-lhe felicidade
Em outra oportunidade, passamos por cima
Sem pensar.
Porque metade de nós é paixão
E a outra metade é falsidade.

Somos contra o preconceito em todo espaço,
Mas desrespeito o idoso, o negro, o homossexual,
Em todo lugar que passo.
Porque metade de mim é o que digo
A outra metade é o que faço.

Para acabar com a divisão
Precisamos ir além
Acabar com essa maldade
Não ser minha, nem tua, de mais ninguém
Porque metade de nós precisa ser humana...
E a outra metade também

Eduarda Pereira e Nathália Vaz
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Este poema surgiu de uma atividade que minha aluna particular Nathália precisava fazer para o colégio. Foi difícil sair, mas quando saiu ficou legal, não foi??
Você está achando parecido com alguma coisa?? Foi baseado nessa música de Oswaldo Montenegro:

Metade
Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

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Gostou??? Então ouve aí.
http://www.youtube.com/watch?v=ujQoUEdXr_8

domingo, 3 de outubro de 2010

Escola número 1 ou Escola A




Sabe quando alguém diz que tal texto é "mais literário que tal texto" "ou que tal autor é melhor que tal escritor"? Nós temos nossos gostos e como a Literatura é arte, pode nos parecer mais legal ou menos legal esse ou aquele autor. Pois bem. Entretanto não existe texto mais literário que a caderneta de um professor. Ahh, amigo que está lendo isso que eu escrevo, acredite, é a mais pura verdade. E não é só isso, há variações: a caderneta do professor da escola pública é mais literária que a do professor da escola privada e isso muda ainda mais se se trata de professor ou professora. Vejamos o porquê.

Quando eu cheguei na escola de número 1 que eu chamarei aqui de Escola A (mais por uma questão de apego às letras - que eu não sei explicar, bom por que será que me apego mais a letras que a números??? - do que por uma questão de classificação por padrões - já que para Classe A ou número 1 essa escola passa looooooooooooonge), o diretor falou o que todo diretor até hoje me falou quando fui substituir alguém:

- A professora Fulana era muito querida, os alunos gostavam muito dela. Será uma tarefa difícil substituir uma grande profissional.

Acho que eles me subestimaram, o que é que vocês acham?? Porque até hoje nunca fui hostilizada ao substituir ninguém - quer dizer, nunca não seria exatamente a palavra, mas enfim, vocês ainda conhecerão essa outra história. Recebi a caderneta de Português, que estava com o nome da dita cuja escrito de caneta, o que me deu um pouco de ciúme, já que eu não podia rasurar, mas vamos ao que interessa.

Nas cadernetas das escolas da prefeitura existe uma parte chamada... hummm... hummm... poxa, esqueci, mas eu acho que é Primeira Impressão, ou alguma coisa do tipo. É onde o prof. anota a impressão que teve da turma no início do ano e no fim do ano. Quando li aquilo tive certeza de que eu estava naquela escola da novelinha Carrossel e que eu iria substituir a professora Helena. *--* O texto que a professora fez dos alunos foi tão bonito que ela merecia um Oscar. Havia trechos como "a interação entre professora e alunos foi bastante verdadeira" ou também "a turma A executa conversas paralelas que podem ser facilmente dissipadas".

OHHH!! MALDITOS EUFEMISMOS!!! COMO ME FIZERAM SOFRER!!!

Sabe quando você quer dar uma notícia de morte mas não sabe como?? Aí você diz pro cara que a mãe dele foi morar no céu com Deus?? Isso é o que se chama eufemismo, é uma figura de linguagem. Que idiota que eu fui!! Confiar que uma professora formada em Letras, amante da literatura fosse escrever um texto totalmente verdadeiro, sem duplas significações.
Pois imaginem vocês que essa "interação verdadeira" e essas "conversas paralelas" eram FORÇADOS EUFEMISMOS!!!! Os meninos não paravam de falar um minuto e para cada 10 palavras 11 eram palavrões, eu me senti dentro de uma jaula! Tanto tempo estudando Magda Soares, Irandé Antunes, Paulo Freire entre outros teóricos educacionais e das Letras não estava me servindo para nada. Então, depois de três dias de sofrimento e muito choro em casa, depois de eu ter que consultar diversas enciclopédias educacionais e livros de psicologia, tive que aplicar a melhor das pedagogias no momento: a PEDAGOGIA DA AMEAÇA!Sabe como funciona??

Eu ameacei que o primeiro que falasse teria o nome anotado em uma folha e que essa folha seria levada até o diretor! hahahahahahahahahahahahahah (essa risada foi de maldade, tá?! Tipo bruxa malvada). E PLIM! FUNCIONOUUUUUU!!!! hahahahahahahaha (essa foi de alegria). Fui para a outra sala, a 7ª B, achando que eu era a própria substituta de Carl Rogers, explique a Pedagogia da Ameaça e PLIM! FUNCIONOUUU... por no máximo 10 minutos. Eles viraram uns pestinhas de novo. Acho que esse foi o pior dia de todos, fui pra casa chorar e desistir dessa vida, sabe.
Como vocês sabem, eu choreeeeeeiiii!!! Mas não desisti, acho que fiquei anestesiada até agora. Isso ainda não é o fim, aguarde mais lembranças da escola A.

=D

domingo, 26 de setembro de 2010

Algumas considerações importantes

Acredito que a afirmação de que há pessoas que passam pela nossa vida por um curto período de tempo, mas que ficam para sempre marcadas faz sentido para muita gente. Há lugares que também têm essa mesma característica. Uma escola em que passei apenas 3 dias me rendeu histórias que conto até hoje. E uma outra em que passei apenas umas quatro horas??? Meu Deus, já foi mais do que suficiente. Acho que essas passagens foram necessárias e, como disse meu amigo Josué, professor de inglês, algumas coisas aconteceram não por sorte, mas porque Deus quis assim. Foi necessário passar por isso, e eu passaria de novo.
Alguns alunos já sabem que comecei a escrever um livro com as minhas histórias dos lugares por onde passei e plantei conhecimento (ou não, nunca se sabe), muitas dessas histórias são engraçadas - mais quando contadas pessoalmente que quando contadas aqui por escrito, mas a gente tenta, né? - outras são mais reflexivas.
A imagem que eu fazia da educação antes de passar por tudo o que passei e a imagem que tenho hoje são muito diferentes, felizmente ou infelizmente. Hoje acho que vejo as coisas de um modo mais claro, sem romantismos, interpretando a realidade. As histórias que vocês lerão aqui contadas - se acharem que vale a pena, porque se acharem uma droga é só ir ali em cima e digitar www.orkut.com.br/colheitafeliz e aí sim se divertir - não conterão nomes de escolas nem de algumas pessoas, por motivos éticos... mas quem me conhece saberá exatamente do que eu estou falando.
Então divirta-se, conheça esse mundo pelo qual você certamente passou, ou está passando, e descubra como é estar do outro lado: do lado do professor.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Como me fiz professora - parte 1



Eu diria que o início de uma profissão não é quando você escolhe o curso, ou quando você entra na faculdade, ou até quando você faz estágio supervisionado etc, etc... e sim quando você é BATIZADO naquela profissão. E eu acredito que o batismo é necessário, pois o meu foi de fundamental importância para o meu crescimento profissional.

Tudo começou numa segunda-feira, 18/06/2007, quando fui encaminhada para uma escola municipal no Ibura. Não me lembro do que aconteceu antes disso nem como peguei a carta, levei os documentos ou qualquer coisa, tive uma espécie de apagamento da memória; mas lembro perfeitamente de como cheguei lá.

Ficamos eu e mais dois amigos em pé na porta esperando o diretor. Eu estava feliz da vida porque nunca tinha trabalhado de verdade na vida e iria ser na minha profissão, quer coisa mais legal??

Quando o nobre senhor diretor resolveu dar o ar da graça, convidou-nos a entrar em sua sala para uma reunião e disse tantas barbaridades (ou verdades) que fiquei estarrecida e tive certeza de que aquele homem era doido. Coisas do tipo "eu não tenho coração" ou "se um menino desses der na senhora e machucar o dedo, a senhora vai presa" foram frases célebres que a minha mente não esquece.

Na sala constatei algumas das verdades que ele tinha me dito, presenciei coisas com as quais minha visão de hoje talvez não tivesse se chocado. Fui para casa e chorei... muito! Passei três dias nesse martírio até desistir. Não tenho qualquer lembrança positiva de lá.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

"A falta de imaginação é a pior inimiga dos escritores... meu cérebro está uma página em branco"

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Silabada

Você que é leigo nas questões taxonômicas da gramática de nossa língua deve estar se perguntando que "troço" é silabada, se é de comer, se é de beber ou ainda se é de dançar (essa palavra me lembra lambada hehehe) ou ainda mais por que causa, motivo, razão ou circunstância (para citar aqui o Professor Girafales => AMO!)eu estaria aqui falando disso.
Pois bem, entrei na vida de concurseira há pouco tempo e hoje foi o primeiro dia em que assisti a uma aula de Português. Como essa era a primeira aula a que eu assisto, e não ministro, resolvi me reduzir a minha insignificância e estar o mais imparcial possível na sala, porém foi impossível não analisar TUDO o que a professora estava dizendo e fazendo e por um pequeno detalhe: ela estava errando MUITO nas definições... Mas o que mais chamou minha atenção e de minha amiga de profissão Amanda foi o fato de a professora ter lido a palavra brasileira RECORDE de um texto como a inglesa RECORD e, ainda mais, dizer que a pronúncia tanto faz.
- O quê?????!!! - exclamei.
Se isso tivesse partido de uma pessoa não muito dada aos pormenores do Português ainda vai, mas da professora... Fiquei decepcionada...
Existem algumas palavras na nossa língua que causam problemas em relação à pronúncia da silaba tônica. Entre elas estão PUDICO, RUBRICA e a danada da palavra RECORDE. A silabada está presente na parte de prosódia da gramática e ocorre quando transformamos uma palavra oxítona em paroxítona, paroxítona em proparoxítona e... é isso aí, vocês entenderam, né??

Então, só pra não perder o hábito, vamos a algumas palavras a que você preisa estar atento:

avaro ( aváro );
fluido( flúido);
gratuito( gratúito );
juniores (juniôres);
pudico (pudíco);
recorde ( recórde );
rubrica ( rubríca ).

Atenção! Se você encontrar escrita a palavra RECORD (no inglês), a pronúncia correta é "récorde" mesmo, entendeu??

Ai, Jesus, será que eu vou pro inferno por criticar o próximo?? hehehehe
Beijos

quarta-feira, 21 de julho de 2010

E assim nasce um blog!

Acredito que escrever é para os fortes! Escrever requer conhecimento de mundo, criatividade, interatividade e principalmente saber a ortografia, né gente?? (essa parte bastante esquecida por tantas pessoas). Criei esse blog para compartilhar com vcs minhas histórias diárias dessa saga que é ser professora em nosso país, além de comentários sobre os mais variados assuntos da língua. Se ele será legal ou não, visitado ou não, salvador de pessoas desesperadas em relação à língua ou não... não sei, mas aqui está ele, pronto depois da insistência de alguns alunos, entre os quais devo citar Larissa Maciel, minha aluna do 1º ano do Decisão. Tá aí, Larissa! Você entrou para a história. hehehehe

Chega de blá blá blá!